Sobre nós:




O homem é pensamento. Ser lógico, dialético, retórico. Termina a encontrar a si mesmo na busca de descobrir os melhores métodos para cuidar bem de si. Não muito tempo atrás havia-se a ideia de que para educar bem, deveria primeiro dominar as artes da mente. A educação de tempos atrás era outra, passava-se um bom tempo nos estudos das artes primárias antes de se aventurar nos mais avançados conhecimentos, buscava-se tecer o pensamento; pensamentos que em linhas metódicas chegavam a desenhar os caminhos da alma. Entendia-se a importância do pensamento, conceituação, ode ao abstrato. Talvez as artes de hoje já não sejam mais como antes. Formam-se homens néscios, ora pra esquerda, ora pra direita; todos esses trazem em si o vício da imoralidade. Se intelectual, discorre solenemente os vícios do relativismo, gasta todo o seu latim no irracionalismo. Se burro não entende que se odeia o trabalho intelectual, fez justo aquilo que os criadores deste tempo queriam. O mundo foi-se em pernas para o ar, desvencilhou a ira de Belphegor, demônio que quis destruir no homem a imagem e semelhança divina: razão esta que , desviada de seu propósito, guia-nos para a profunda abjeção do seco anti-intelecto. Tudo isso tecidos rasgados da sinfonia das eras, vão destruindo o que resta desta que foi a maior de todas as civilizações.

O homem da Idade Medieval, ainda munido da ideia de que a mente deveria ser a primeira a ser educada, desenvolveu aquilo que poderia ser modelo para todas as épocas, fruto da junção entre a filosofia grega e a incipiente filosofia Cristã. Buscava-se trazer aos homens aquilo que era de suma importância; se para interpretar as escrituras era necessário o aparato filosófico, precisava-se de uma educação que os desse todos os passos necessários. Trivium: jóia rara da humanidade. Seu afã era munir os homens da arte do bem utilizar os signos da linguagem, do bem concretizá-los na forma de discurso, e de dar-lhes coesão nas linhas do pensamento. Se Deus deu aos homens o dom da razão, saber utilizá-los era cumprir um propósito divino. Para tal educação o importante não era um amontoado de conteúdos aleatórios, nem sempre úteis fora de iluminar a mente, e que logo seriam levados em surto amnésico. Entendia-se a importância de educar a alma; treinar a razão que é como Deus no corpo humano. Tal coisa só podia ser feita no berço da Filosofia.

Costumeiro na prática da história é que a cultura anterior destrua a cultura posterior. O homem, que cria uma nova sociedade, ver seus valores desenhando-se na senda do tempo, mas longe de querer a síntese do contrário, logo se entrega a destruir tudo que o outro já sabia. Era o sinal de superioridade do dominador sobre o dominado, o dominado poderia até, por puro azar da humanidade, portar em sua cultura ensinamentos mais avançados, medicina, literatura, filosofia e física; mas se em teu seio tudo isso era afronta ao alastramento da nova cultura, seus avanços poderiam ser destruídos. Era preciso por outra cultura no lugar, mostrar quem manda por soberania do destino.

Mas homens como Santo Agostinho, e outros da famigerada Idade das Trevas, possuíam no recôndito de seus corações a vontade de fazer diferente. Eram almas que possuíam em seu cerne o amor de Deus projetado ao conhecimento. Saberiam eles que não deixar sumir uma cultura milenar era por si só uma consumação de Caritas? Sei que certamente alguns homens possuem dentro de si a capacidade de verter em seus peitos amor incondicional ao conhecimento. Homens desse tipo fazem muito pela humanidade. Pois há na história ato de grandes contradições, e se a manutenção é a tese e a destruição antítese, tais pessoas perfazem o que, no ato de uma síntese amorosa, pode salvar toda uma sociedade. Amor ao conhecimento permite que o espírito das épocas continue fluindo no meio ao caos de uma sociedade que acaba de findar e outra que trará em si, em vez da destruição do anterior, seu complemento, resolução de seus problemas e a superação de seus feitos. Se há quem se tenha de agradecer por nossa herança greco-romana, temos de agradecer a esses amantes.

Assim, munido da concepção de que todo aquele conhecimento anterior era necessário para compreensão das escrituras, compunha-se o sistema que iria formar os maiores intelectuais de nossa civilização. Tudo como um ato do não querer. Treinava-se a Lógica para expor as escrituras com coerência, formou-se a filosofia mais rigorosa de que toda a Grécia reunida; tratava-se da gramática para mostrar essa coerência com precisão, formou-se uma geração de escritores magnânimos.

Mas como tudo que é bom pouco dura, restou-se pouco tempo para que viesse a destruição dessa joia rara. O homem do hoje veio para negar a história, para destruir o que os antigos punham no ar; não mais síntese harmoniosa, mas a antítese que traz a destruição . Somos filhos do tempo da educação do torpor, o conteúdo é entorpecente e danifica a alma. Ensina-se para o esquecimento, e o esquecimento é parte dialética da memorização no ensino. Opcional passa a ser obrigatório, o que soma ao bom ato de querer transformar o ensino em universal na ação de fazer o impossível, ensinar a quem não quer aprender.

Somos vítimas desta nova concepção, filhos da geração "Beaba". De todo esse empobrecimento, só nos salvará uma reforma que traga a tona a importância da arte do pensamento, e que ensine a verdadeira importância do ato de educar. O ensino deve ser a busca do supremo bem novamente, e isso só a volta às raízes pode nos trazer…